Chegamos de
todos os cantos, a pé, de braços dados pelo campo de futebol improvisado, de
terra batida, pela lateral da escola. O dia é importante. É dia de nos
reunirmos para debater um tema muito importante: a mulher no mercado de
trabalho.
O movimento
feminista trouxe muitos avanços para a emancipação feminina, principalmente por
sua reivindicação ao direito de exercer funções públicas, além da esfera
privada ao qual estavam relegadas. A independência financeira é o pilar da
liberdade construída nesses anos e anos de luta. Para nós,
meninas-futuras-trabalhadoras, é muito importante sabermos qual o é o panorama
social trabalhista e as condições de inserção da mulher no mercado de trabalho.
Sobre o vídeo “Mulheres
Invisíveis” que assistimos hoje, debatemos sobre a desvalorização da mão-de-obra
feminina no mercado de trabalho e suas causas. Mulheres que desempenham um
papel importantíssimo na construção da sociedade mas que ganham salário
inferiores, acumulam dupla jornada de trabalho, recebem menos incentivos –
sintoma paradoxal, já que as estatísticas demonstram uma grande
profissionalização.
Em “Vida Maria”,
animação brasileira produzida por Márcio Ramos, o universo feminino é mostrado
em suas peculiaridades, num singelo ciclo de existência. É a aridez do sertão,
em sua perpetuação da dor e o contraste da imensidão do céu. O pedido de benção
e a proibição de desenhar nomes... O debate posterior levantou questões
interessantes: que destino é esse imposto a todas nós, mulheres? Que sistema
desigual é esse que nos relega a uma sina tão desigual?
Com licença poética
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a
sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
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